O Reino de Deus

O Reino de Deus

Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão cuja crítica ao cristianismo se deu com verdadeiros golpes de martelo, destacava principalmente a inércia dos cristãos, que seria resultado, segundo ele, da incompreensão dos mesmos sobre o Reino de  Deus.  Segundo  Nietzsche,  o  Reino  de  Deus  seria  não  uma fé,  mas  uma  ação,  de  modo  que  a  passividade  cristã  se  dava  principalmente pelo “Reino de Deus considerado como ato final, como promessa”. Sua crítica tem grande importância quando se percebe que o anúncio do Reino futuro muitas vezes apagou o aspecto presente do Reino. Nietzsche, apesar de romper com o cristianismo, destacava a presença atuante do Reino, lembrando a expressiva sentença de Jesus “o Reino de Deus está em vós”. Assim sendo, o Reino não é algo que deva apenas ser esperado, mas  é  uma  realidade  presente  no  interior  do  ser  humano,  que altera o seu ser e o leva a agir de modo diferente no mundo. Não é apenas uma realidade “para além da Terra, ou depois da morte”, mas é, também, uma realidade para a vida presente, para o aqui e agora. A fé e a esperança, direcionadas para o futuro, acabaram anulando a prática, que deveria estar voltada ao presente:

(…)  a  prática  cristã,  uma  vida  tal  como  a  viveu aquele que morreu na cruz, apenas isso é cristão

(…) o cristianismo autêntico, o cristianismo primitivo,  será  possível  em  todas  as  épocas…  Não uma fé, mas uma ação, um não fazer certas coisas e, sobretudo, um modo diferente de ser.

É  evidente  que  Nietzsche  ultrapassa  a  visão  tradicional  da igreja, mas certamente lembra a esta o seguinte: a pregação cristã atual deve acompanhar a pregação de Jesus Cristo sobre o Reino de Deus em sua integralidade, proclamando tanto o Reino enquanto realidade presente quanto o Reino enquanto realidade futura, assumindo a tensão entre presente e futuro que é característica  do  cristianismo.  A  crítica  de  Nietzsche,  portanto,  não deveria ser rejeitada, mas assumida e encarada pelos cristãos, a fim de proclamarem não ideias, mas atitudes, não conhecimentos, mas princípios, não questões da alma, mas do ser humano em sua integralidade e em sua existência aqui e agora. O futuro do Reino de Deus anunciado deve começar hoje: não deve gerar uma espera, mas uma esperança, que implica necessariamente em ação e transformação.

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